sexta-feira, janeiro 16, 2009

 

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CAPÍTULO VII - A oferta nos mercados concorrenciais


7.1. Os custos do produtor: custos médios e custos marginais.
Quando decide o que produzir, como produzir, quanto produzir, como vender,
que preço aplicar, o produtor vai ponderar sempre o custo de produção. Assim,
disposição para vender ocorre em função dos custos de produção. O objectivo
de um produtor é o de obter uma receita, um rendimento, que seja superior ao
custo total, de modo a poder beneficiar da diferença entre os dois valores, ou
seja, do lucro.

O rendimento total é, deste modo, o somatório dos resultados obtidos pela
venda dos bens ou dos serviços no mercado. Obtém-se pela multiplicação do
número total de unidades vendidas pelo preço de cada unidade.

O custo total é o somatório de todas as despesas que o vendedor tem de
fazer para que os bens vendidos sejam produzidos e cheguem ao mercado.
Estamos, deste modo, perante o conjunto das remunerações dos diversos
factores de produção. O custo total corresponde à soma dos custos fixos e dos
custos variáveis. O custo fixo está ligado às máquinas que produzem os bens
(p. ex. as máquinas que produzem alfinetes). O custo variável está ligado aos
trabalhadores que têm de empregar para produzir mais ou menos bens de
acordo com a evolução da procura.

O custo médio corresponde ao encargo
médio necessário para produzir cada unidade - se dividir o custo total pelo
número de alfinetes produzidos sei qual é o custo médio de cada alfinete. Os
custos fixos médios tendem à decrescer à medida que se produz mais. Os
custos variáveis médios já tendem a crescer à medida que se produz mais. Os
custos médios totais tendem a descer até um determinado limiar, vindo a
crescer a partir daí - segundo uma curva em U.

O custo marginal indica ao produtor quanto custa produzir a próxima unidade,
isto é, o próximo alfinete, ou quanto custa produzir o último. Os custos
marginais têm tendência para crescer, se tivermos um factor produção fixo.
Começam por ser inferiores aos custos médios totais enquanto eles descem,
passando a ser superiores depois do limiar atrás referido e a crescer mais
intensamente do que os custos médios. Como vimos, nas economias
industriais, estando em causa a variação de todos os factores de produção o
custo marginal tende a ser decrescente – em ligação com a lei dos rendimentos
crescentes à escala.

7.2. As funções da produção, os custos de curto e longo prazos.
A função produção é uma relação puramente quantitativa, entre o que é
usado na produção e o que dela resulta. Pelo que acabámos de ver, as
decisões do produtor visam obter o melhor resultado possível quando o produto
é vendido no mercado. Para o produtor, as noções de curto e longo prazos
dependem da consideração predominante dos custos fixos e dos custos
variáveis.
No curto prazo, perante uma análise imediata das condicionantes da produção
e do mercado, prevalece a lógica dos custos fixos. No longo prazo,
considerando que é indispensável alterar as circunstâncias, a fim de que a
inovação garanta a existência de um excedente do produtor, vai predominar a
lógica dos custos variáveis. No longo prazo preocupamo-nos com a afectação
economicamente eficiente de todos os recursos. Quando se combinam factores
variáveis e factores fixos o rendimento marginal dos factores variáveis tende a
diminuir. Numa economia com forte pendor agrícola é o que ocorre - falando-se
de lei do rendimento marginal decrescente.

Como já dissemos, a lei dos rendimentos decrescentes tem em
consideração a escassez dos recursos e relaciona, na economia tradicional, a
utilização de um factor de produção fixo (a terra) e de um factor de produção
variável (o capital ou o trabalho). Os rendimentos adicionais resultantes dessa
relação serão decrescentes e os custos tenderão a ser crescentes.
Numa economia industrial, se houver um aumento proporcional de todos os
factores de produção, de modo a que não haja desequilíbrio ou sobrecarga
para qualquer um deles, então temos uma situação em que os rendimentos
marginais são crescentes - estamos perante o aumento de escala.

Uma variação da escala de produção pode ter um de três efeitos possíveis:

(a) a produção aumenta proporcionalmente ao aumento combinado de todos os
factores - rendimentos constantes à escala;

(b) a produção aumenta menos do que proporcionalmente em relação ao
aumento de escala - rendimentos decrescentes à escala;

(c) a produção aumenta mais do que proporcionalmente em relação aos
aumentos de escala - são as economias de escala, que decorrem dos
rendimentos crescentes à escala.

Já tivemos oportunidade de analisar, a propósito das incapacidades de
mercado, que há um limiar a partir do qual as deseconomias de escala
começam a funcionar, invertendo a tendência para os custos decrescentes.
Essa tendência leva a um forte pressão no sentido da concentração das
iniciativas e das empresas. Há motivos que favorecem esta tendência, que
podem ser externos (saturação das infra-estruturas, agravamento dos tempos
de acesso e de transporte, alterações na mão de obra) ou internos (ineficiência
do mercado de trabalho, perda de competitividade, perda de coesão). As
variações de escala visam garantir rendimentos crescentes, por essa razão há,
nas economias modernas, uma forte preocupação no sentido de contrariar o
predomínio dos factores fixos.

7.3. Excedente do produtor, lucro económico e renda económica.

Vencimento de transferência, efeito de quase renda.

O excedente do produtor corresponde à diferença entre o preço mínimo a
partir do qual a venda já ocorreria e o preço real a que transacção ocorre.
Como sabemos a curva da oferta é a representação dos preços mínimos que
os produtores aceitam para cada produção. Assim, o excedente do produtor é,
no mercado, o somatório das diferenças entre os custos de produção e o preço
efectivo.

Até agora temos sobretudo falado de custos explícitos, os que correspondem
a pagamento efectivo feito para a aquisição de factores de produção. Há, no
entanto, custos implícitos, que correspondem a vantagens ou desvantagens
inerentes ao próprio produtor. Este pode ter acesso privilegiado a determinadas
matérias-primas ou contar com a excepcional competência de determinados
trabalhadores. Nesse caso, há uma vantagem comparativa para esse produtor
e uma desvantagem para os seus concorrentes. Também pode acontecer que
a decisão de um produtor no sentido de iniciar determinada actividade envolva
o sacrifício de uma outra actividade económica - pelo que terá de abater ao que
venha a ganhar o que perdeu.

O custo económico é um custo de oportunidade - envolvendo o que o
produtor gastou para obter o bem ou serviço, mas ainda a perda dos benefícios
que para ele adviriam da segunda melhor escolha.

O lucro contabilístico corresponde à diferença entre o rendimento obtido e os custos totais. No entanto, se o produtor renunciou a uma actividade complementar para se
dedicar exclusivamente à actividade principal, então temos de abater ao lucro
contabilístico essa perda. O lucro económico corresponde à consideração do
custo de oportunidade no cálculo do lucro contabilístico. A diferença entre
lucros contabilísticos e lucros económicos assenta no facto de estes serem
calculados por referência aos custos de oportunidade que possam ser
considerados, enquanto aqueles são achados por referência aos custos
explícitos. Assim, os ganhos contabilísticos são superiores aos gastos
económicos.
Importa ainda referir, a este propósito, o que se entende por renda económica
- trata-se de um excedente do produtor devido a qualidades deste que têm a
ver com o seu prestígio, com a sua experiência ou com a excepcional
confiança que goza. Aqui o excedente não é devido à sua capacidade
inovadora, mas sim à posição favorável que tem no mercado (por exemplo os
“Rolling Stones” em comparação com uma outra banda de qualidade mas
desconhecida). O lucro tem essa razão específica caso o produtor com entrada
reservada no mercado aufira um benefício por esse facto.

Temos de referir ainda o conceito de vencimento de transferência, relativo ao
factor trabalho, que se define como o valor mínimo da remuneração que o
trabalhador está disposto a aceitar para realizar determinada tarefa. Abaixo
desse valor o trabalhador prefere ou manter-se ocioso ou desempenhar outra
tarefa. Acima desse valor haverá um efeito de renda, que terá maior
expressão relativamente a quem tenha maior prestígio e maior capacidade
para seduzir ou para atrair a procura. O vencimento de transferência no
mercado do factor trabalho corresponde, assim, com o lucro normal próprio dos
produtores no mercado dos bens e serviços.

7.4. As opções de investimento.

As opções de investimento reportam-se à aquisição de activos, através dos
quais se pretende a obtenção de rendimentos na exploração desses bens ou
mais valias resultantes das respectivas vendas. Constituem activos para este
efeito os títulos de participação no capital das sociedades anónimas (as
acções) ou as quotas nas sociedades de responsabilidade limitada (Gmbh, no
direito alemão). As transacções das acções das sociedades anónimas fazemse
normalmente em Bolsa, e sempre com respeito de regras a que se
submetem os mercados de valores mobiliários, sob a acção reguladora das
Comissões de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
Os diversos exemplos de opções de investimento permitem-nos compreender
que as escolhas do produtor têm de ponderar racionalmente os custos e
benefícios alternativos. Quem tenha maior resistência ao risco preferirá, em
nome da segurança, a realização de depósitos no sistema financeiro e bancário
ou o investimento directo em bens (p. ex. imóveis ou em bens muito raros).
Outra alternativa nas opções de investimento é a subscrição de títulos
obrigacionistas (as obrigações), que constituem empréstimos de capital
financeiro a uma empresa. Ainda poderá fazer-se referência à subscrição de
partes de capital de uma empresa - que se designam como acções.
A opção que envolve maior risco corresponde a uma aposta na incerteza da
inovação. À partida não se sabe qual será a reacção do mercado. Não se trata,
porém, de puro jogo ou de uma aposta na sorte, no azar ou no acaso, mas sim
de uma escolha racional de consequência incerta e insegura.

7.5. O multiplicador de investimento.

O princípio do multiplicador, estudado por John Maynard Keynes, permite
estudar o efeito de um acréscimo de despesa de investimento sobre o
rendimento global. O multiplicador indica, assim, uma variação de rendimento.
Sempre que se realiza um aumento de investimento e não haja pleno emprego
dos recursos produtivos, então verifica-se uma reprodutividade desse
acréscimo traduzida num acréscimo multiplicado de rendimento. Se houver
pleno emprego dos recursos produtivos, então o multiplicador funciona em
termos puramente monetários – aumentando a procura, sem correspondência
na oferta, com consequente aumento de inflação.
O multiplicador designa-se como K , correspondendo à razão entre o
acréscimo de rendimento representado como ΔR e o acréscimo de
investimento representado por ΔI:

K = ΔR ou KΔI = ΔR
ΔI
Se num dado período o investimento aumentar 100 unidades de conta e a
propensão marginal para o consumo for de 4/5 o multiplicador será de 5 e o
acréscimo de rendimento será de 500 unidades de conta.

Porquê? Num primeiro momento, o investimento de 100 vai originar 4/5 de
consumo e 1/5 de poupança. As 80 unidades de conta orientadas para o
consumo vão traduzir-se num acréscimo de rendimento de idêntico valor. Este
vai, de novo, ser dividido em consumo e poupança. As 64 unidades de conta
de consumo vão gerar novo aumento de rendimento. E assim sucessivamente,
até o efeito se esgotar, quando se chegar ao acréscimo de rendimento de 500
(100+80+64+51,2+41+32,8+….=500).
O período de multiplicação é o tempo necessário para a despesa de
investimento exercer todos os seus efeitos sobre o rendimento global. A sua
extensão depende da propensão marginal para o consumo e do período de
propagação do rendimento.

No exemplo: ΔR (500) : ΔI(100) = K (5) ou KΔI (5. 100) = ΔR (500). A
propensão marginal para o consumo corresponde à parte que numa unidade
adicional de rendimento é orientada para o consumo. A propensão marginal
para a poupança corresponde à parte restante numa unidade adicional de
rendimento, que vai para a poupança.
Deste modo: 1 = pmc+pmp, no exemplo dado 1 = 4/5 + 1/5. Portanto, sendo o
acréscimo de rendimento de 500, perante o acréscimo inicial de investimento
de 100, verifica-se que essa relação de 1 para 5 revela o multiplicador, cujo
valor (5) é o inverso da propensão marginal para a poupança (1/5).

7.6. O acelerador.

O efeito do acelerador, primeiro formulado por Albert Aftalion (1874-1956),
liga-se directamente ao efeito do multiplicador, ainda que numa perspectiva
diferente e complementar, relaciona a intensidade da procura de bens finais e a
procura derivada de bens de investimento ou intermédios. Enquanto o
multiplicador relaciona investimento e rendimento, o acelerador parte do
aumento da procura para o acréscimo de investimento. Suponhamos uma
unidade da indústria têxtil que tem 100 teares, que permite a produção de 300
mil peças de tecido. Consideramos ainda que a amortização do investimento
feito nos teares é de 1/10 por ano.

Investimento Procura Equipamento
10 300 100
10+10 (Δ100%) 330 (+10%) 110
10+10 (Δ0%) 360 (+9%) 120
10+5 (Δ-25%) 375 (+4%) 125

Num primeiro momento a procura aumenta 10% (mais 30 mil peças de tecido).
Para fazer face a esse aumento é necessário adquirir mais dez teares, o que
aumenta o investimento de 100% (10 mil unidades de conta, que se somam à
amortização anual). Num segundo momento a procura aumenta 9% (mais 30
mil peças). É preciso adquirir mais dez teares. Mas o investimento adicional é
nulo, pois é idêntico ao do período anterior. Por fim, o aumento da procura é de
apenas 4% (mais 15 mil peças). Então precisamos de comprar mais cinco
teares. Mas há uma redução em 25% no investimento adicional.
Fala-se de efeito acelerador pela comparação com a aceleração no motor do
automóvel. Também aí o acelerador começa por dar um movimento uniforme
ao veículo, mas se formos tirando o pé pode funcionar como travão. Conclui-se
que há uma desproporção entre a intensidade da procura dos bens finais e a
procura derivada de bens intermédios. A procura de bens intermédios acelera
ou desacelera a um ritmo diferente da procura dos bens finais. Tem sido
estudada a ligação entre os efeitos do multiplicador de investimento e do
acelerador, através do efeito designado por oscilador.

7.7. As empresas. Economias de escala. Rendimentos crescentes.

A empresa é o centro da economia moderna e aberta. Combina técnica e
economicamente processos de produção que lhe fornecem os agentes que
intervêm no processo produtivo - os trabalhadores, os capitalistas prestamistas,
além do empresário. Enquanto no processo artesanal há uma combinação de
contributos centrados no artesão, "a empresa somente aparece quando o
mercado dos meios de produção lhe fornece uma parte substancial ou a maior
parte do trabalho e do capital que emprega" (François Perroux) – o empresário
activo é aquele que inova e que justifica o lucro através da capacidade de
trazer algo de novo ao mundo da vida.

O "empresário estático é escravo das contabilidades passadas; o empresário
dinâmico subverte-as". O primeiro tem a mentalidade de rendeiro,
considerando o seu negócio como um emprego seguro do seu dinheiro; o
segundo corre riscos. As empresas são os centros elementares da produção. A
economia de mercado é multipolar e só pode afirmar-se se for inovadora.
Para Joseph Schumpeter (1883-1950) o empresário é o indivíduo que toma a
iniciativa de introduzir no circuito económico inovações (novos produtos, novas
técnicas, novas fontes de abastecimento de matérias primas, novos mercados,
novas formas de organização das empresas) e novas combinações produtivas
de que resulta o desenvolvimento económico. O empresário dinâmico promove
a mudança e é a acção que o caracteriza. Schumpeter fala, por isso, de
"destruição criadora" - e da necessidade de se compreender que há
momentos diferentes na actividade económica. Em cada período consomem
os resultados da actividade produtiva do período anterior e produzem-se os
bens que hão-de ser consumidos no período seguinte, sem que a produção ou
o consumo sofram qualquer alteração qualitativa ou quantitativa. A economia
fica estacionária.
Sem inovação não há criação de nova riqueza. Joseph Schumpeter, a partir da
empresa e do conceito de inovação, chega a um novo conceito de
desenvolvimento, que contrapõe ao de mero crescimento. O crescimento
económico representa uma mera alteração quantitativa (o incremento do
Produto Interno Bruto), enquanto o desenvolvimento económico e social
obriga à consideração de elementos qualitativos, ligados à organização social,
à qualificação e à educação dos agentes económicos, à capacidade inovadora,
ao meio ambiente, à qualidade de vida e à competitividade… Os ciclos
económicos são determinados pelo desenvolvimento. A expansão corresponde
à fase dos efeitos positivos da inovação, a depressão à dos efeitos da
especulação e da inércia.
A maximização do lucro e a redução do custo médio de produção podem ser
provocados por múltiplas causas, como: o aumento do volume de produção e o
progresso técnico. As economias que provêm da organização da produção na
sociedade industrial em que vários factores de produção variam em simultâneo
são economias de escala.
Os rendimentos ou são constantes ou são crescentes à escala e os custos ou
são constantes ou são decrescentes, ao contrário da regra existente nas
sociedades rurais onde, pela importância dos factores naturais de produção
(fixos), os rendimentos são decrescentes e os custos crescentes.

Nas economias de escala, pela dimensão, procura-se produzir com o menor custo médio. As economias de escala de longo prazo são devidas ao aumento da
dimensão da empresa. As razões da maior eficiência da grande empresa são:
a diminuição do custo fixo unitário, a especialização do trabalho mais
acentuada, o poder de negociação mais amplo permitindo obter factores de
produção em melhores condições e o melhor poder de previsão.

O desenvolvimento económico e social, pedra angular do pensamento de J.
Schumpeter, depende do capital social (noção recente ligada aos elementos de
organização, de confiança e de coesão da sociedade), do capital humano e da
capacidade de aprender mais e melhor, muito mais do que de um conceito
rígido de riqueza material transmitida. A crise de determinados mercados,
como o das novas tecnologias de informação e comunicação, deve-se muitas
vezes à prevalência de efeitos especulativos imediatos (bolha especulativa) e
de antecipações infundadas sobre a alteração dos comportamentos dos
consumidores (p. ex. relativamente aos telemóveis e à micro-informática) por
comparação com a efectiva capacidade inovadora das empresas. Como referiu
Vilfredo Pareto, a vida económica conhece ciclos de criação e de especulação,
no entanto só nos primeiros é que se verificam os avanços necessários à
melhor atisfação das necessidades humanas.

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